Fotografía Paula Gómez del Valle
É mui complicado ser superoína. No quotidiano dos dias caminhas as
ruas, as praças, as grandes avenidas, com todos os teus poderes aí,
à vista para quem saiba ver, mas invisíveis para a maioria. E tanto
melhor, porque muita gente não percebe e teme aquilo que ignora. É
complicado chegar ao parque, sentar na randeeira, no alto da
escorregadoira, e fazer o simulacro de brincar como criança para não
estontear ao mundo com a nossa melhor cara de velocidade.
É mui complicado ser poeta. No quotidiano dos dias caminhas as ruas,
as praças, as grandes avenidas, com todas as tuas metáforas aí, à
vista para quem saiba ver, mas invisíveis para a maioria. E tanto
melhor, porque muita gente não percebe e teme aquilo que ignora. É
complicado chegar ao parque, sentar na randeeira, no alto da
escorregadoira, e fazer o simulacro de vigiar como adulta para não
estontear ao mundo com a nossa melhor cara de velocidade.
Mas quando és poeta e superoína a um tempo, é singelo explicar ao
mundo, para que perceba e deixe de temer, as superoínas, a poesia.
Isso faz Marga Tojo num preciosista volume, maravilhosamente
acompanhado dos desenhos de María Hergueta.
Cara de velocidade é a que pomos as superoínas, mesmo as
poetas, para andar polo mundo. Podemos acompanhar com capa e pijama
de dinossauros, aí ao gosto de cadaquém, mas o importante é que ao
mudarmos a maneira de olhar, damos com esses pormenores que nos
acompanham na rotina dos dias e que fazem destes uma aventura.
Marga Tojo cria para nós uma protagonista, criança, que vai à
escola, ajuda na cozinha, passeia a cidade, vai ao parque e olha as
estrelas. Quer dizer, uma superoína do mais comum, das que temos em
todas as casas e em todas as escolas. Dessas que não têm controlo
total sobre a sua própria ultraforça e derramam os copos de água
ou vêem um dragão ferido em cada esquina. E um amigo.
Cada poema do volume traz com ele um cachinho de realidade, sendo
este o único -inho que encontraremos no texto. Nada de passarinhos
que cantam no ninho que pousa amodinho no altinho do montinho. Não.
As superoínas fazem poesia séria. Encontram todas as palavras no
prato da sopa, batem ovos e ecoam maracas e voam os céus da cidade
enorme levadas pola samarra, polo chuvasqueiro, premendo no botão
mais alto, esse que evita que a cabeça se solte do corpo. E flutue
como globo da peppa pig.
O fato de que a voz poética seja a duma superoína cria um clima de
cumplicidade com as leitoras que não abunda na poesia infantil. É
habitual que nesta sejam os objetos, a natureza, sobre todo os
animais, os protagonistas, e que se dê uma entidade abstrata,
tipical terceira pessoa e omnisciente, que mostra à criança as
maravilhas do mundo. Como sempre, todo para o povo, mas sem o povo.
Todo para a infância e sempre sem infância. Aqui, H. (H. de
heroína, de helena, de halicórnia) consegue que nos identifiquemos
com os seus destragados truques de mágia, com as suas carreiras em
patineta, com as suas tatuagens de intenso azul bic, com as suas
danças loucas ao ritmo do Narf1
ou com os seus cálculos numéricos, dêameninaocontrasinalcorreto.
E devemos aclarar que não por ser criança a poeta, é menos poeta.
Quando és poeta e superoína a um tempo, é singelo explicar ao
mundo, para que este perceba e deixe de temer, as superoínas, a
poesia. É singelo, mas não simples. E simplicidade será aquilo que
não encontremos em Cara de velocidade. Há humor (com H.) e
hironia (com H. também) no contraste entre títulos e textos. Há
uma funda sensibilidade no golpe, desculpa, verso final, de cada
poema e não são furtados os monstros pessoais que habitam os
roupeiros. O pior deles, o monstro do tédio.
É mui complicado ser superoína. É mui complicado ser poeta. Mas
lendo Marga Tojo acabamos por acreditar que não, não é nada
difícil. É só colher um pijama qualquer, colocar umas cuecas na
cabeça, uma toalha amarrada ao pescoço2,
alçar os punhos ao céu e pôr cara de velocidade.
Marga Tojo: Cara de velocidade.
Ilustracións de María Hergueta. Kalandraka Editora 2018.
1As
superoínas gostam das mesmas músicas que os avôs das superoínas,
porque no seu mundo se superóis não há distâncias nem entre as
idades; para isso está a ultrarapidez.
2Desbotamos
a possibilidade de colocá-la no cabeça como coroínha de
princesinha.
Para perder o medo, [à] poesia! por Susana S. Aríns
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