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Imaxe: Paula Gómez del Valle |
Por Susana Sánchez Aríns
Tea rooms é o nome da pastelaria. Tea rooms é o título do
romance. Um romance escrito por uma mulher e protagonizado por mulheres. E
fazemos a nossa inferência, e pensamos nessas donas de casa desesperadas da
tevê, que combinam nas tardes para tomar um chá e revisar as suas medíocres
vidas. Porém a escritora encontra mais interessante focar a sua obra noutras
mulheres, e por isso completa o título com um Mujeres obreras.
E lemos. E ficamos surpresas. Porque damos com um romance
que não estudamos que existira, hispanistas que somos, nem no liceu, nem na
faculdade, nem sequer nos estudos de posgrau. Nunca.
Luisa Carnés dá às cinco mulheres do seu texto a acolhida
que lhes nega o salão de chá em que trabalham. Seja no balcão ou na limpeza, as
protagonistas do romance são mulheres que suportam condições laborais indignas,
quase escravagistas, no Madri de 1933. Cada uma das personagens que constrói a
autora tem as suas características pessoais e as suas circunstâncias vitais,
embora quase todas partilhem uma condição: a pobreza. Esta faz-se mais patente
polo espaço de trabalho: um lugar onde a rapariga que sabemos não pôde tomar o
pequeno almoço, deve servir doces e pasteis sem pensar em levar nenhum à boca.
Que mesmo deve atirar os que já não são frescos sem botar-lhes a mão, razão de
despedimento. Um lugar onde a pessoa que mal-come deve contemplar em respeitoso
silêncio como petiscam sem vontade as gentes de bem.
No avanço da narrativa imos conhecendo os problemas que
afetam às trabalhadoras da década de 30. Não, não imos encontrar surpresas: o
excesso de horas, a ausência de descansos, o assédio laboral e sexual, a falta
de consciência política, a insolidariedade. O mesmo mesminho que encontraremos
nos violentos anos dez deste século XXI. E a isso, acrescentados, outros temas:
o matrimónio e a prostituição como soluções aceitadas à pobreza, a sexualidade
negada, a ausência de controlo das mulheres do seu próprio corpo, os maus
tratos, a dupla jornada laboral. O mesmo mesminho que encontraremos nos
violentos anos dez deste século XXI.
Quem faz diferente é a autora. A autora parte das vímbias do romance
sentimental, quase de enredo (amorios, rejoubas) e transforma essa estrutura
para acolher a reivindicação política, sindical. Para isso utiliza a figura da
narradora, quase uma personagem mais (embora narradora externa). As
trabalhadoras pensam que são camareiras de uma pastelaria. A narradora sabe-as
proletárias. E todo o que elas não são quem de ver, pensar, verbalizar, vê-o,
pensa-o e verbaliza-o ela. A narradora explicita-se, cada vez mais a medida que
avançam os capítulos, para ocupar todo já no final da obra.
E todo isto contado num presente imediato, pois o romance
situa-se em 1933 e foi editado em 1934. Na época convulsa das greves, que se
aparecem na narrativa, com as mulheres a duvidar da sua participação nelas ou
não. Colocando a narradora o dilema entre a necessidade e o medo.
E sim, depois foi o 36 e todo mudou, e Luisa Carnés houve
de exilar-se e não soubemos nunca dela. E estudamos, anos depois, a narrativa de
antes da Guerra Civil e encontramos romance inteletual, romance vanguardista,
romance experimental, e mesmo humorístico… E encontramos senhores, senhores,
senhores, alguns que mesmo se exilaram. E dos que sim soubemos. De Luisa Carnés
nunca[1]. Porque ser escritora e
republicana no 36 foi duro, mas ser escritora, republicana e mulher, foi pior.
Luisa
Carnés: Tea Rooms. Mujeres obreras.
Hoja
de Lata Editorial 2016.
[1] Aqui é onde abençoamos o labor de
livrarias como a Lila de Lilith, cujas estantes mostram alfaias como esta para
quem queira buscar, atesourar, saber.
A arte de servir o chá
Reviewed by admin
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15:53:00
Rating:

O livro traz um artigo complementário sobre a autora que só lim depois de escrever a recensom... A mais velha de seis irmãos, trabalhou desde os onze anos. A sua formação é toda autodidata e a base de ler volumes das bibliotecas populares. Publicou un par de contos e dous livros e foi saudada como a grande promesa da narrativa espanhola. Comprometeu-se com as mulheres e foi das inteletuais que apoiaram a clara campoamor na luita polo sufrágio feminino. Com a consideração ganhada como autora conseguiu trabalhar de jornalista-reporteira e disso viveu o resto da sua vida. Exiliou-se em méxico, seguiu a escrever, mesmo publicou algum conto, mas tem quase toda a sua obra inédita e sem editar (começam a resgatá-la agora). Grande respeito.
ResponderEliminarObrigadissimas pola mención e pola análise do libro, xa nos cheiraba a alfaia... Susana Arins até da gosto de ler quando recensiona... que boas colleitas quando partilhamos trabalhos! <3
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