O decálogo Hexágono

RED, de Hernán Piñeira

Por Susana Sánchez Aríns

O livro da diagnose. As mestras que não acabais de saber que é a poesia ou como trabalhá-la, ou se tem utilidade na escola ou cumpre os estándares de avaliação e os níveis competenciais, encontrareis na Poesía Hexágono uma doutora dessas que cantam as verdades do barqueiro, e que vos dirá aquilo que não fazeis bem: que poesia vai aprender outrem quem nunca lê poesia... E como boa doutora prescreverá como tratamento umas pílulas de pensamento poético maravilhosas: se não queres ser como elas, lê.

O livro das cartografias. Não sabes onde é que está a poesia. Ignoras os seus hábitos alimentícios ou os covis em que hiberna. Este é o teu livro: contém um cento de taxonômicas descrições e concretas categorizações, todas elas contraditórias, daquilo que é o feito poético. Para que escolhas a que prefiras (ou todas) e podas descobrir a poesia que habita na tua volta, no teu corpo, na tua janela. Em todos os mapas.

O livro das receitas. Para as mestras que sempre acabais com um sim sim, tudo mui bom, mas diz-me algo exato e particular que eu poda aplicar na sala de aulas.  Sim, se és dessas mestras fartas de discursos riquinhos sem propostas concretas, desses brindes ao sol que não valem para dias anuviados, neste livrinho encontrarás receitas singelas, das que precisam de poucos ingredientes e nada exóticos, para fazer chegar a poesia e a reflexão poética ao alunado (e às mestras também). Como essa de Carlos Negro com um paráguas preto e um outro de cores. Passeia os corredores do centro com eles e pensa a diferença. Queres receitas? Tem receitas!

O livro das clássicas (ausentes). Se és dessas mestras que só conhecem as peotas poetas da escola, já sabes, quevedo-rosalia-lorca-pondal-curro jiménez, este é o teu livro. Nele encontrarás petiscos de quanta poeta peota contemporânea anda ceiva polo mundo: só por saber de Susana Benet, para mim desconhecida, pagha a pena ler. Esta presença de peotas ajuda a romper a solenidade a que tão afeitas nos tem a fastienta didática da lírica. Eu não renego das autoridades, mas esses uniformes, leituras uniformadas, que vestem, dão tanto medo a quem desconhece as artes marciais dos recursos estilísticos...

O livro de Gianni Rodari. Eu aprendi na escola com Gianni Rodari. Sabe-o bem, por genealogia, Antía Otero. A surpresa enorme é comprovar, ano atrás ano, que o Rodari não é, nem muito menos, um autor que passeie, de paráguas preto, de paráguas a cores, as salas de aulas. Quem devera ser clássico, não é. Ainda e por enquanto. Eu, criaducada com ele, medo o interesse e importância das obras pedagógicolíricas (binômio fantástico) com a sua sombra pairando nos parágrafos. E por aqui anda o Gianni, dando frescor. 

O livro das bibliografias. Se és das que nunca fartam com a leitura, das que quedam com vontades de mais e mais e mais, não te preocupes. Reborda a Poesía Hexágono referências a artistas e mestras de toda laia. O cosmo de Carl Sagan partilha página com a botânica do caos de Ana Maria Shua. Paloma Díaz-Mas e a sua poesia oral sefardi acompanha as pinturas de Cecílio Meireles. E Wislawa, sempre Wislawa, escolta os grafittis de Neorrabioso. Se queres submergir-te no cósmico caos das infinitas poéticas, aqui tens um bom porto de que partir.   

O livro das ciências. Ou sim! O livro das ciências, assim como lês! Mas não era de poesia? É. E de ciências também. Porque o nosso cérebro é um remexido de neurónios, memórias, sinapses e cheiros, a curiosidade só pode ser ao tempo de ciências e de letras. Só uma mente poética pôde vislumbrar um resplendor azul e fraco no coração da pechblenda. E assim, a Poesía Hexágono navega entre a topicália para esquartejar os nossos esquemas preconcebidos com a precisão do escalpelo. Propostas para a sessão de sociais, para a sessão de plástica, para a sessão de biologia; para a sessão de língua, também.

O livro da cópula. Cada um dos favos que compõe a Poesía Hexágono é uma proposta de achegamento ao feito poético. Todos diferentes. Mas encaixam uns nos outros com a colagem exata que dá o cerume. Porque não há contradição em chegar à poesia desde caminhos diferentes. E essa é a arte do livro: demostrar-nos que não há nunca um senão, mas uma cheia de es, entre os que podes escolher o que melhor che acaia e mesmo todos por junto. E podes fazer constelações, e podes criar um vídeo-poema, e podes pensar numa palavra, e podes olhar pola janela, e podes comer chocolate, sempre em onças, e podes ir ao mercado com um caderno, e podes sentar num banco uma semana inteira, e podes participar num cadáver esquisito, e podes criar metafóricas noites. E podes parar perante o espelho. E olhar. 

O livro compostor. Como a nossa vizinha a Corva, que com o tento das mãos recolocava paletilhas e arranjava escordaduras, Poesía Hexágono é o livro que nos volve poéticas porque nos cura de todo aquilo que não víamos. Sempre e quando acreditemos que é possível ver entre tanta cegueira.

O livro que não é para mestras. Porque nos serve a todas. Às que imos pola vida de peotas, as que não ledes poesia mas quereis, às que fazeis cinema e música e grafittis, às que quereis escrever mas onde, como, às que tendes que estudar poetas e para que, as que não conseguis curar-vos a curiosidade, as que acreditais sentir-vos no mundo errado. E às mestras. Copulativamente.


VV.AA.: Poesía Hexágono. Ollada e experiencia. Proposta e resposta nas aulas. Apiario SL. A Corunha 2015.

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