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Cuatro raparigas num bilhete con garrafas de vinho. Colecçâo Enrique Acuña. |
Por Susana Sánchez Aríns
Helena
Miguélez-Carballeira faz um percorrido, em Galiza, um povo
sentimental?,
pola história do nacionalismo galego e de como tal história foi
narrada, para pescudar nessa narrativa (lembrai que narrar outra
cousa não é que fabular) as ideias, o imaginário sobre o qual foi
construído o discurso nacional. Amedida que o estudo avança vai-nos
mostrando como a imagem de nós mesmas foi configurada polo
colonizador e como o nacionalismo galego foi (auto-)retratando(-se)
Galiza en função da imagem que d@s galeg@s espelhava o nacionalismo
espanhol. Na Espanha a Galiza era representada duma maneira e os
galegos (sim, elEs) recolhiam a luva da provocação e procuravam uma
pintura que fosse uma resposta. Enfim, não somos outra cousa que um
sujeito subalterno, que diria Gayatri
Spivak.
A
problematização para as mulheres aparece quando desde as espanhas é
associado o mito das origens célticas ao modelo da imoralidade e a
indecência. Sempre, em qualquer situação de conflito entre
comunidades, a arma mais eficaz é sexualizar as mulheres (pág. 43)
e ligar a decência da comunidade à daquelas. Apartir deste feito,
Miguélez-Carballeira dá conta, recorrendo textos literários,
políticos, jornalísticos, da existência de um contínuo diálogo
entre um nacionalismo e outro, e também entre as diferentes
correntes do galeguismo. Este diálogo en conflito, cheio de fios e
meadas, origina uma complexa trama na que os tropos são
contrastados, rectificados, adaptados ou suavizados en função de
interesses e circunstâncias. Mas sempre ficando nós, as mulheres,
subalternas perdidas.
Nesta
retórica de ataques, ridículos, de exclusão e inclusão entre
tírios e troianos é estabelecido um claro diferencialismo sexual,
no que o elemento racional, viril, valente, afouto é tomado
positivamente e aquele sentimental, feminino, submisso e medroso é
arrojado como despreço na face do contrincante. Toda uma série de
elementos se configuram em volta destes dous pólos como
constelações: do racional imos ao público e ao político, do
sentimental, ao privado e ao poético. Perante o modelo de mulher
(Galiza) indecente, é criado um modelo de mulher (Galiza) modesta,
obediente, sentimental. Perante o modelo de mulher (Galiza) submissa,
é criado o modelo da Galiza (mulher) viril, e são rejeitadas as
atitudes femíneas, sentimentais das correntes en competência. Em
função destes modelos é interpretada, revisada, corrigida e
readaptada a figura de Rosalia de Castro, a mulher (Galiza) mito.
Assim,
por exemplo, a autora mostra no capítulo III como os moços das
Irmandades se auto-erigem em nacionalistas políticos fronte ao
regionalismo sentimental que defendem (dizem) pessoas como Couceiro
Freijomil e chegam, nos seus artigos de opinião e palestras, a
igualar a ideia de fazer política com a de se fazer homem. Estes
tropos virilizadores tenhem continuidade ao longo de todo o século
XX, estorvando tanto a presença de mulheres no campo da política1
como o surgimento de um pensamento feminista autónomo dentro do
próprio nacionalismo.
Neste
sentido gostamos especialmente do capítulo que Helena
Miguélez-Carballeira dedica a Carvalho Calero, mais que pola
análise, cremos que certeira, da sua obra desde uma perspectiva
feminista, pola clarificadora exposição do seu rol assombrador
sobre a primeira geração de críticas feministas galegas, empeçadas
no seu trabalho pola atitude paternalista e fiscalizadora adoptada
para com elas polo professor.
Galiza,
um povo sentimental? é uma boa prova de como a asunção das
metodologias críticas feministas podem deitar luz, abrir portas e
questionar a configuração do imaginário cultural, ideológico e
político de um país. Ou de como todo isso, gênero, cultura,
política, está tão entramado que só uma olhada feminista pode
ajudar a perceber o ponto com que é tecido. Ou de como devemos
revisar as nossas histórias cultural e literária para desvendar a
força que na sua configuração teve o sexismo. Ou de como, sempre,
a melhor arma contra qualquer inimigo de qualquer caste é denigrar
as mulheres. E de como, antes que em matar o pai, o nosso futuro está
em matar o patriarcado.
Helena
Miguélez-Carballeira: Galiza, Um Povo Sentimental?
Gênero,
política e cultura no imaginário nacional galego.
Através
Editora 2014.
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1
Daqueles
que sobem aos estrados e defendem a nação
dizem
que tenhem alma de senhor;
pois
eu que igual que eles a defendo, Virgem das Palestras,
Ai!,
de quê a terei?
O nacionalismo que não ama(va) as mulheres
Reviewed by segadoras
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16:39:00
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