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Foto roubada da rede |
Por Susana Sánchez Aríns
De
as mulheres termos país, existiriam leis que nos protegessem,
educação que nos libertasse, estimação que nos figesse felizes.
Porém, vista a realidade que nos envolve, é provável que este não
seja país para mulheres.
Esta
é a reflexão de Mary Wollstonecraft na sua novela Maria.
Cumpre com ela uma necessidade perentória: oferecer às mulheres que
serão uma experiência que a ela nenguma outra lhe legou. Não
porque conhecimentos coma os dela não os tenha havido ou não os
houvera no seu tempo, mas porque as canles de comunicação entre
mulheres estavam cegadas pola lama da dominação patriarcal.
Mary
Wollstonecraft foi atacada polo mesmo vírus que tem infectado outras
mulheres: a urgência de evitar-lhe a uma futurível filha a cegueira
própria, exercer a sororidade
antes que a maternidade.
Na
novela, a protagonista homônima convida às leitoras a conhecer as
circunstâncias que figeram acabar a sua vida como louca num
manicómio. Porém, há uma narratária concreta: a filha sequestrada
polo pãe. A autora, para estender o abano social (Maria é de classe
acomodada vinda a menos) dá oportunidade a outras vozes, mulheres
com as que a protagonista encontra nas suas peripécias, de elas
contar as suas diversas e tão parecidas circunstâncias.
Entre
uma e outras desvendam, para aquelas que hão (havemos) de vir, a
realidade do mundo:
Com
a escusa de proteger a moral, a sociedade, a família, a tradição,
o país e mesmo as mulheres, as leis estão construídas para
garantir a tirania do homem sobre a mulher, considerada ser inferior.
A única maneira de Maria evitar a sua indigna situação familiar é
casar; casa pensando que escapa e entra numa maior prisão, da que só
pode fugir afundindo a sua honra na lama. Ai, filha, a mim ninguém
me contou que o matrimónio é uma armadilha!
E,
mão a mão com as leis, a mã educação. Mulheres aprendidas a não
fazer nada, a calar e obedecer, a ser ignorantes e parecer bobas de
ser inteligentes. Mulheres incapazes de gestionar a sua própria vida
e a sua independência. Virginia Woolf leu esta novelinha quando
escreveu sobre a irmã
de Shakespeare. Seguro. Ai, minha meninha, não temas os teus
pensamentos!
As
mulheres não deixam de ser escravas submetidas a um amo, que pode
ser tirano, que pode ser paternalista, que pode ser mesmo afável,
mas que não deixa de ser amo. A diferência entre umas mulheres e
outras é a sua escravitude ser privada (propriedade de um marido
atravês do matrimónio) ou pública (prostituídas para gozo de
maridos -e outros- fora do matrimónio). Ai, minha prenda, não
consintas ser a leira de outro!
A
violência como continuum vital para a maioria da povoação
feminina. Pode ficar (?) no simple desprezo, como no caso de Maria,
ou pode chegar à cousificação mais besta, como no caso de Jeminna.
Mas quase todas as mulheres que transitam pola novela, recebem como
pílula no seu tratamento diário, condescendência, engano,
isolamento, desgabo, crueldade, maledicência, abandono. É simples,
corujinha, quem bem te quer, não pode fazer-te chorar!
A
maternidade como arma de opressão. Punhalada que amarra esposas a
matrimónios amanhados, cuitelada na que os homens decidem se querem
ou não responsabilizar-se, em que medida, e como. A serventa
expulsada por prenhar após ser forçada polo senhor da casa; as
filhas ilegítimas levadas para amas de cria; as apócemas abortivas
ingeridas à força por meninhas assustadas. Ai, minha rosa, só a
mulher pode decidir sobre o seu corpo, que ela vai suportar toda a
responsabilidade!
E
a loucura. Porque esquecemos muitas vezes a educação sentimental
que levamos séculos a receber: a diferente é uma frígida, é uma
histérica, está tola, é uma doida. Ai, minha garavança, não és
louca por acreditar na tua dignidade!
Todo
isto e mais reflicte Mary Wollstonecraft em Maria,
escrita
com a declarada intenção de denunciar a situação das mulheres na
sociedade inglesa do XVIII.
Pode
ser que as cousas tenham melhorado desde 1798 em que a
obra foi
publicada. Porém, leio a proposta de penalização do aborto,
ultrajantemente titulada Ley
de Protección de la Vida del Concebido y de los Derechos de la Mujer
Embarazada, e
como Mary Wollstonecraft há 200 anos, pergunto-me se as mulheres
teremos país.
Mary
Wollstonecraft: Maria.
Ou os males da muller.
Tradução
de Mª Fe González Fernández.
Hugin
e Munin, Compostela 2013
Pois digo-te que não temos. Que em qualquer momento podemos ser apedrejadas, traídas, queimadas, espancadas de muitas maneiras e modos, dos que deixam marca invisível e dos correntes. Podem ser os teus companheiros de aventuras. Podem ser até os teus irmãos. A irmandade não existe. E não existem os amigos. Sempre acabam pondo por diante o seu: a sua leira, o seu umbigo, as suas ambições, o seu machismo, os seus punhos. E também há mulheres que os seguem e os imitam. Essas, minha cara, são as que mais tristeza me põem. Não há país para as mulheres que não querem ser homens. Não temos país. Haverá que o construir.
ResponderEliminarEste comentario foi eliminado polo autor.
ResponderEliminarconstruamos!
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